domingo, 3 de julho de 2005

5 Razões para se Deletar um Blog Incompreendido - Essa postagem pertence ao Marcelinho

Finalmente vou deletar este blog. Vou tentar elencar alguns motivos para esta minha conduta:

1) Do moralismo arraigado – Já cansei de ter que explicar que o que está escrito não resume a totalidade de meus pensamentos. Muitos leitores ficam chocados com os textos que escrevo, me condenam, me julgam, ignorando o fato de que a expressão de muitas coisas aqui depositadas faz parte do cotidiano de todas elas. Sim, eu penso este monte de absurdos. E tenho coragem de expressar isso publicamente. Porque, afinal de contas, o que está na internet é do domínio de todos aqueles que estão habilitados a se conectar à rede. Muitos leitores também pensam as mesmas coisas, mas o verniz civilizatório – ou melhor, o moralismo arraigado – lhes impede de rascunhar o que quer que pensem. É preciso seguir uma conduta moral, mesmo no território livre da internet. A impressão da liberdade é uma grande falsidade. Dizer que está transformando no micro-cosmos é uma falácia. Afinal de contas, ao chamar cachorro de cão, muda-se apenas a forma, mas o conteúdo continua o mesmo. Afirmar que se está fazendo diferente é o engodo daqueles que persistem em negar a impotência em relação às condições de opressão, dando vazão à falsa onipotência criadora. Que fique bem claro: acredito, sim, que é possível potencializar inúmeras ações das pessoas, fazendo-as exercer seu pensamento crítico por si próprias. Mas que fique bem claro também: achar que minhas próprias ações são transformadoras da realidade, condenando as ações alheias ao embuste, é uma arrogância prepotente que serve apenas como paliativo para a angústia do desamparo perante a realidade. Eu, cansado de ter que explicar para aqueles que não gostam de exercer o pensamento, resolvi parar de lutar em vão.

2) Da hipocrisia constituinte – A pior coisa deste blog são os links. As frases logo no início fazem graça, apenas. É o cúmulo ser criticado por inúmeros leitores, que jogam pedra atrás de pedra, mas que por sua vez são os maiores freqüentadores dos links dos “amores platônicos”. O problema da prostituição infantil não acaba porque todos nós gostamos de comer uma menininha gostosinha de carne dura. Fico impressionado com esses bolsões de prostituição, espalhados por diversas regiões de nosso país, que são condenados pelos politicamente corretos, mas que é freqüentado justamente por todos aqueles que a condenam: políticos, policiais, pais de família, jovens moralistas, celibatários, desempregados, irmãos ciumentos, grandes empresários, pequenos agricultores e, principalmente, estrangeiros que trazem muito dinheiro para nosso país, fazendo o capital circular. Da mesma forma, a corrupção está longe de acabar. Se quisermos gente honesta, que paguemos todas as multas que tomamos; que não ultrapassemos no sinal vermelho; que não subornemos nenhuma autoridade; que jeitinhos não sejam dados; que todas as leis sejam cumpridas com estrito rigor; que não seja possível burlar qualquer convenção acordada entre as pessoas. Os legisladores são os mesmos que praticam os crimes. Não estou aqui tentando estigmatizar um ou outro grupo social. Todos nós fazemos isso, salvo raras exceções ou casos esporádicos. Da mesma forma, este blog é condenado pelos censores. Mas são justamente os links os mais visitados por aqui. Já tive um total de 11.220 visitas. O número de visitas está numa média diária de 24. Entretanto, o número de links clicados sobe para a média de 41 diários. Ou seja: muitas pessoas entram neste blog não apenas para ler meus posts. Elas entram para utilizar a minha listinha de links. E garanto que não é para clicar nos links para os blogs dos camaradas. Foi justamente para reforçar o meu caráter de corruptor que agreguei cada vez mais endereços ao lado. Mas já cansado de ser o carrasco, resolvi estripar este blog.

3) Amigos? – Tem muitos leitores que utilizam meu blog para ganhar status, incrementar a própria imagem, acumular capital simbólico. Ao me demonizar, eles se colocam na posição de anjos. Eu sou o mal. Eles o bem. Meu blog foi inúmeras vezes recomendado como uma referência do mau-caratismo, da canalhice, da perversidade. Já houve até ocasiões em que, ausente em uma determinada ocasião, fui citado como um lord Sith, enquanto os enunciadores se colocavam como Jedis, sendo de longe conhecido dessas pessoas! Fui reduzido ao que escrevo neste blog. Minha vida pública se igualou ao conteúdo de uma página de internet. Cansado de ter mostrar que isto aqui se trata de uma imagem virtual e que as estratégias dos leitores são um tanto quanto duvidosas, resolvi deletar este blog.

4) Múltiplas facetas – Na Psicologia há um debate imenso sobre o que é a identidade. Eu nunca fui de citar autores, mesmo porque acho que isso é coisa de gente prolixa que tem medo de não estar no lugar de autoridade do saber, que não consegue debater com uma outra pessoa sem o amparo de alguns “grandes” autores, o que lhe garante a assimetria dos lugares. Como eu ia dizendo, penso que nossas identidades não se restringem ao que somos, como se elas fossem uma marca única e individual de cada pessoa. Eu acredito que nossa identidade se constitui nas relações. Sendo assim, eu não sou o mesmo quando estou com o Fulano ou o Ciclano, quando estou numa turminha ou na outra, quando estou sozinho ou em bando, e assim por diante. Penso que somos diferentes de acordo com o que as situações exige de nós. Aqui exponho uma faceta, que não se reduz ao cubo todo. Um lado não é o todo. Isso não é o que penso, mas ao mesmo tempo o é. Eu não sou assim e sou ao mesmo tempo. Representa um lado que não se resume ao todo, muito menos pode ser indicador do todo. Esta identidade virtual é comumente identificada como minha identidade real. Esse é o erro do tolo que não exerce o pensamento e que não dá a devida atenção à própria percepção e sensações sobre minha ilustríssima pessoa, quando em minha digníssima companhia. Cansado de ter que explicar que nariz de porco não é tomada, vou acabar com este blog.

5) Ah, as mulheres... – Depois que ouvi um bom e sonoro “você é igual a todos (os homens). Só pensa em mulher”, achei que já era hora de parar com esta brincadeira. O que eu acho mais incrível é o fato de que mesmo tendo um convívio íntimo comigo, me conhecendo mais a fundo, sabendo de meu modo de vida e das piadinhas que faço com a imagem, mesmo assim preferem acreditar que eu sou esta página de internet. Acho que preciso admitir a minha precariedade de qualidades mesmo... O que mais choca, quando uma mulher entra neste blog, são os infindáveis links dos “amores platônicos”. Tudo ficou pior quando resolvi escandalizar e colocar alguns links de “colegas universitárias que gostam de ganhar a vida fácil”. Esta última brincadeira começou depois que uma amiga me disse que a Bruninha (último link na seção “Mundo Maga”) estudava Psicologia. Eu, chocado, tentei achar no blog dela onde estava tal referência. Ficou só no boato. Depois desse dia, resolvi fazer uma rápida busca por sites de programadoras (garotas que fazem programas) e analistas de sistemas (garotas tão evoluídas na programação, que evoluíram de cargo). Impressionei-me com a quantidade de links que achei. Claro que coloquei os melhores (e não se resume nem a 1% dos links que achei). A coisa então ficou muito mais chocante. Ai sim fiquei com má fama. Fiquei com a injusta fama de putanheiro. Antes eu tivesse pagado e comido uma dessas minas extremamente muito absurdas de excepcionalmente gostosonas pra caralho. Definitivamente, prefiro gastar meu dinheiro com outras porcarias (se bem que se eu descobrisse que uma colega é programadora – mas, sinceramente, espero que seja analista – com certeza ia chantagear pra comer de graça.. hehehe). Mas aí algum leitor pode dizer "mas se a pessoa gosta de você, ela não vai se importar com isso. Vai entender". Que grandes piadistas! A ilusão de completude e perfeição que une um casal que acaba de se conhecer, que remete diretamente à mais tenra infância, dando vazão à ilusão da simbiose, da fusão, do embasbacamento, tudo isso cai por terra quando se lê este blog. Aqui, que é um território do explicitamento do não-dito, funciona como um veneno, como uma criptonita. Basta chegar perto para derreter qualquer pensamento mais positivo. É uma injeção na veia cheia de adrenalina. Ao invés das doses serem homeopáticas, a coisa vem de uma vez só. Não há artéria que aguente. A outra ilusão destruida em segundo é a da monogamia. Depois de ver os inúmeros links dos amores platônicos, a parceira pode até pensar que eu sou voyuerista ou algo do gênero. Mas vendo das Classmates, nossa, aí a casa cai. E pra explicar que não sou um putanheiro safado? E pra explicar que essa é uma seção de utilidade pública pra vários camaradas? E pra explicar que isso é uma grande ironia contra as leis da estética? Enfim, cansado de queimar meu próprio filme, não conseguindo escapar da inimputável culpa que recai sobre meus ombros de perversidade consentida, tendo fracassos e mais fracassos amorosos acumulados por conta da livre expressão do meu pensamento cibernético, resolvi mandar este blog pras cucuias.

3 comentários:

Rubis disse...

Putz Méli, olha só que situação delicada: Essa sequência de três postagens é do Marcelinho, não são minhas as reclamações, apesar de eu também gostar de ser paparicado. Agora só fica a necessidade talvez de eu te apresentar pro Marcelinho. Putz...

PUTZ...

Será que eu consigo ser um pouco perverso também? :)

Rubis disse...

As postagens 5 Razões para se Deletar um Blog Incompreendido, Sobre as Composições Possíveis em um Relacionamento Amoroso e o Magnífico Conto à Espera de um Editor Interessado são dele em homenagem ao blog que ele deletou.

Anônimo disse...

Ae Rubens,

Vc acredita que só agora é que eu parei pra olhar o teu blog?? hahaha.. Meu, que engraçado essa conversa com a Meli!

Bom, obrigado pela homenagem. De fato, foram post bons que escrevi. Talvez, um dia, quem sabe, eu escreva outros. Mas, definitivamente, é de confetes que estou precisando menos!

Pô.. eu ainda não consegui achar uma frase pra vc..

Um abraço,
Marcelinho