sexta-feira, 24 de setembro de 2010

o colecionador de mundos

Essa luta não é sua! Acha que pode mudar de lado com essa facilidade? O que você fez, fez apenas por vaidade. Ao que Burton sahib respondeu-lhe: Vocês só pensam em categorias grosseiras, amigo e inimigo, nosso e deles, preto e branco. Não conseguem imaginar que possa existir algo intermediário? Quando assumo a identidade de outra pessoa, posso sentir como é ser essa pessoa. Isso é o que você imagina, retrucou o mestre. O disfarce não lhe dá acesso à alma. Não, claro que não. Mas me dá acesso, sim, aos sentimentos, porque eles são determinados pelo modo como os outros reagem a essa pessoa, e isso eu posso sentir. Burton sahid quase suplicava, de tanto que queria acreditar na verdade de suas palavras. Mas o mestre não teve piedade. Você pode se disfarçar, mas jamais saberá o que é ser um de nós. Sempre vai poder despir o disfarce, terá sempre esse último recurso. Nós, porém, somos prisioneiros da nossa pele. Jejuar não é o mesmo que morrer de fome.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Vivência comunitária

Uma experiência maravilhosa era o forte sentimento comunitário (mesmo sendo a discriminação invertida por conta da origem social, o outro lado da moeda).

Vários dos trabalhadores eram moradores do bairro, estavam lá por mais de 10 anos, alguns tinham até passado como educandos nos projetos educacionais para depois serem educadores.

Uma identificação com a proposta de trabalho, o reconhecimento da liderança do padre, o conhecimento na região e das pessoas que passam por problemas por ali. As propostas de intervenção surgiam das necessidades sentidas nas vidas de quem as propunha, não da conclusão de algum especialista

No projeto de liberdade assistida para adolescentes, por exemplo, vários dos educadores eram vizinhos, amigos das mães. Com isso sabiam onde eles moravam, com quem andavam, como eram. Ou pelo menos conheciam seus amigos: os meninos do bairro. Isso certamente possibilitava uma abordagem mais precisa e humana de cada situação...

Clark Kent

Filho de médicos, sem necessidades financeiras, colégio de elite, faculdade de elite, branco. Piadas, brincadeiras, anedotas.
Outros psis tinham passado por ali antes de mim para recolher material de pesquisa para suas monografias de especializaçao, muito "éticos". Tinha os que evitavam comer da mesma comida ou sentar na mesma sala,quando achavam que algo havia sumido olhavam para os colegas que depois me receberam.

Primeiras conversas

Sempre me acho o máximo em entrevistas de emprego. No que dependesse da minha chefe eu nao servia. Cara de tonto, burguês. Nao aguentaria nem um mês. O que eu estava fazendo ali? Pergunta dela. Pergunta minha? A supervisora do serviço me bancou, inicio de uma prazerosa parceria. O dono da entidade disparou em carregado sotaque gringo "Vila Mariana? Tem um orçamento 10 vezes maior que o daqui e nem metade da populaçao". O que eu estava fazendo ali?

A primeira ida

Um amigo da faculdade, uma indicaçao. Um bairro no extremo sul. Fui de carro. Uma infinita linha reta, sensaçao persistente de se perder. Três faixas, ônibus e vans me cercando com sua fuligem preta e claustrofóbica. Como pode tanta gente viver aqui? Como é possivel que eu nunca tenha por aqui estado? Montanhas de tijolo à vista, vielas. Vidros fechados.

Construindo o que sobrou do que passou

Depois de quase 2 anos e de intensas e pouco refletidas experiências, queria apenas colocar tudo no fundo do baú. As lembranças, entretanto, me cobram um pouco mais de dignidade. Uma cremaçao honrosa.