Esse texto eu fiz lá pra maio... umas críticas a uma parte do movimento estudantil.
Cenas Cotidianas de uma Comédia Pastelão
As crianças nunca foram permitidas a se intrometer no orçamento doméstico. Achavam os adultos autoritários, e esses por sua vez, achavam que as crianças nada tinham a acrescentar. As crianças achavam que os adultos não estavam ganhando e gastando o dinheiro de forma honesta, e que desse modo não cumpriam o que falavam e não era daquela forma que eles tinham sido educados pelos próprios adultos. Essa crítica, depois de muito tempo começou a incomodar os adultos, eles deveriam ser mais democráticos e agir mais de acordo com o que pregavam, senão a quem iram convencer? Mostrou-se que tudo que está do jeito que está tem uma razão. Na primeira chance de falarem e serem escutadas as crianças xingaram o pai de bobo, feio e cocozento. E a história vai parar por ai, Não que aquelas crianças nunca irão falar, mas só quando crescerem e forem adultos, enquanto crianças, nada tem a oferecer quando abrem a boca.
Essa é a fábula da moral e dos costumes da classe pseudopolitizada estudantil uspiana. Parece uma piada, mas aconteceu na discussão sobre as fundações no primeiro Co aberto que eu me lembre de ter presenciado nessa Universidade. O ideal dessas pessoas que se consideram fazendo política é qual? Construção coletiva e convencimento ou imposição despótica do que cada um acha no melhor estilo russo? Estão buscando o que, pelamordedeus? Eu gostaria que argumentos que são construídos arduamente para mudar rumos já institucionalizados (como no caso das fundações que existem há anos) fossem levados em consideração pelos professores. Mas nem os estudantes os levam a sério. Num momento como esse em que os que se dizem oprimidos politicamente podem se manifestar, o que se faz, manda-se o Reitor para a zona. É muito fácil ficar numa crítica também fácil totalmente distanciada da realidade. E as fundações de saúde que mantém os maiores centros de excelência brasileiros? Foda-se é a resposta padrão. Não me parece solucionar o problema. O movimento estudantil talvez prefira funcionar sem voz efetiva, porque quando é chamado a contribuir só tem críticas, e o intermediário, comum em negociações ou mesmo quando mais de um está pensando, é inconcebível. Chamada a entrar pela porta da frente e a participar da discussão essa classe prefere ser expulsa para depois invadir a sala e impedir a discussão. Estudantes opressores que acabam com o canal de diálogo que nosso reitor tenta construir, por pressões dos próprios estudantes. Faz algum sentido? Ou será que também os estudantes falam uma coisa e fazem outra como são acusados os docentes do Co e da Reitoria? Será que existe vida inteligente no movimento estudantil? Se existe, quem só oferece xingamentos grita mais alto.
Depois não se sabe porque ninguém aparece nas assembléias. Nesses espaços viciados onde todos querem falar e propagandear suas cartilhas ninguém se escuta, nada sai do lugar e não se busca em nenhum momento o bem comum, coletivo. Chega de palavras de ordem, enquanto elas são evocadas na redoma dessas assembléias a vida corre ao lado. Eu proponho uma ação que seja imperfeita e injusta, mas que melhore o que está posto. Eu proponho algo que atenda os interesses de quem está do lado da opressão, proponho medidas que não retirem as estruturas dominantes, mas que beneficie mais ainda quem está oprimido e que enfraqueça estas estruturas. São três alternativas, ou fica como está, ou se caminha para mudanças cheias de limitações, ou se espera a revolução. Revolução esta não aparece em nenhum horizonte, a não ser nessas assembléias.
Rubens Bias Pinto estudante revoltado do Instituto de Psicologia - USP
Um comentário:
Oi Rubão, concordo com você. E concordo tanto, que talvez seja um problema: acabo optando por expressões e manifestos de outra ordem. Falando nela, quando é mesmo o sarau (espero que não tenha sido, ainda...)? Abraço, Renato.
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