quarta-feira, 7 de abril de 2010

Obama encontra finalmente o seu ritmo de governo na presidência

Der Spiegel

Barack Obama desceu do seu pedestal e começou a governar com uma mistura de idealismo e pragmatismo. Os Estados Unidos perderam um pregador, mas o que não falta nesse país amargamente dividido são pregadores. Finalmente, 14 meses após a posse de Obama, os Estados Unidos contam com o presidente reformista do qual o país necessita.

Passados 14 meses desde a posse de Obama, os norte-americanos finalmente têm um presidente. Eles perderam Santo Barack, o pregador mundial.

A ascensão dele foi ofuscante, e isso era parte do problema. Essa ascensão foi tão irreal quanto a chegada de um salvador. Foi uma ingenuidade, mas Obama fez uma campanha eleitoral ingênua: nós podemos mudar, eu darei a vocês um governo que cura.

Essa abordagem logo fracassou, porque o mundo real jamais é ingênuo.

Agora a esquerda nos Estados Unidos diz que Obama traiu não só os ideais dela, mas os do próprio presidente, afirmam que ele cedeu demais e foi muito brando, acusam-no de ser um professor na Casa Branca, um homem impotente, um Jimmy Carter negro. Já a direita vocifera que ele traiu os princípios norte-americanos e o vê como um comunista e um esbanjador do dinheiro do contribuinte. Isso o enfraqueceu. O governo israelense está se preparando para ignorar o presidente problemático até que os norte-americanos escolham um outro candidato para ocupar a presidência. O presidente afegão Hamid Karzai permite que o seu convidado de honra – o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad – fale mal dos Estados Unidos enquanto soldados norte-americanos protegem Cabul. Mas isso também provavelmente passará: o mundo real não é uma caricatura.

Estas são as semanas do retorno de Obama. Após a sua aparição e crucificação, nós estamos presenciando um processo de secularização. A Casa Branca está se reajustando e encontrando o seu equilíbrio. A reforma do sistema de saúde, finalmente aprovada, deverá fornecer cobertura a 32 milhões de cidadãos e representa uma vitória de Obama sobre o establishment de Washington que há anos é marcado pela paralisia congressual.

Obama deu continuidade a sua tendência a preencher cargos importantes por decreto presidencial. A seguir houve o avanço nas negociações para desarmamento com a Rússia, e depois disso ele seguiu para o Afeganistão. O que estamos presenciando é um início atrasado de ação por parte do presidente.

Um país agressivo e dividido

Todo mundo sabe que existem dois Estados Unidos. Franklin Delano Roosevelt era detestado por milhões de pessoas, Kennedy era odiado pela direita, Nixon pela esquerda, Clinton pela direita, Bush pela esquerda. Os Estados Unidos são um país agressivo. Às vezes isso faz dele um país dinâmico, outras vezes um país destrutivo.

As diferenças entre norte-americanos e europeus são maiores do que muitos europeus pensam. Para os norte-americanos conservadores, o consenso europeu de que um governo forte tem que ajudar os fracos é um ataque à liberdade. Para a direita norte-americana, “solidariedade” e “social” são palavras do vocabulário de provocadores.

Obama tentou modificar esse clima fazendo pregações sobre dever e responsabilidade, e obteve o resultado oposto: paranoia. Teorias conspiratórias e exageros pairavam sobre as entrevistas televisivas do presidente. E além disso houve o movimento Tea Party, e todas as advertências quanto a imigrantes, moradores das grandes cidades, intelectuais, pesquisadores do clima, ativistas da campanha contra armas, políticos, mulheres e negros – em suma, tudo o que ameaçaria os valores norte-americanos básicos.

Os Estados Unidos são um país complicado que passa por uma onda de mudança demográfica que o tornará ainda mais complicado. Nas próximas eleições, os Estados Unidos branco ver-se-á praticamente impossibilitado de vencer os negros e os imigrantes hispânicos caso esses dois blocos juntem forças. A classe média branca teme essa mudança e está nervosa. Senadores são alvos de cusparadas, Sarah Palin aconselha os cidadãos a “recarregarem”, as milícias se armam. O jornal “The New York Times” falou de uma “imitação em pequena escala da Noite dos Cristais”.

A profundeza do abismo não tem precedentes, e também é sem precedentes o fato de a direita estadunidense não ver mais Obama como o seu presidente. “Esse sujeito negro é o seu presidente” - sentenças desse tipo são uma novidade.

É claro que é possível governar em tal clima, mas não será um percurso suave. Um dos maiores erros de Obama foi acreditar na sua visão messiânica de uma presidência que transcenderia as linhas partidárias. Agora ele está governando com paixão, estrategicamente e com cabeça fria.

A democracia não exige harmonia, ela não exige sequer consenso. Tudo o que ela necessita é de uma maioria. Obama desceu do seu pedestal e ao que parece pretende seguir implementando reformas nos quase três anos de presidência que ainda tem pela frente. Um governo meio à esquerda, com um pouco de idealismo e uma dose de pragmatismo, se necessário.

2 comentários:

Camila disse...

Não concordo... acho que Obama ainda continua no DREAM americano!

FATO

rmg disse...

Esperem até que o americano arrogante e orgulho, prepotente acordar para o que acontece com seu bolso. Os TRILHOES de dolares de suas dívidas deverão ser pagos pelos netos, dos netos, dos netos.
Ou então com mais uma guerrinha (grande) eles tentarão se apropriar do mundo, como sherifes que são.
Em vez de gastar mais de um trilhão de dolares anuais em armammentos, porque eles não pagam o que devem ao mundo?
SHAME ON YOU!