Nua, Elisa avança um pouco sobre a cama, de quatro, até a cabeceira, olhando por cima do ombro, atenta aos movimentos do Gato que a acompanha deslocando-se de joelhos e segurando com a palma da mão direita, entreaberta, seu pênis ereto, avermelhado; a cama balança um pouco, em conseqüência do movimento dos corpos que buscam uma posição cômoda para se acasalar. O ventilador, sobre a mesa-de-cabeceira, varre em semicírculo, periódico, o ar quente, na semipenumbra diurna do quarto. Quando o Gato, colando-se às suas nádegas, depois de remover com os dedos e a ponta de seu pênis as dobras do sexo dela, penetra-a por fim, de um modo brusco, Elisa emite um gemido e, mantendo-se em difícil equilíbrio por uma fração de segundo, tira as mãos do travesseiro e gruda as palmas na parede branca, rugosa, por cima e pelos lados de sua cabeça, com os dedos separados. Sua testa roça a parede branca. O Gato vai entrando e saindo de seu corpo, com movimentos regulares que mudam de ritmo, de velocidade, de profundidade, de tal modo que por vezes o pênis entra até o fundo, com uma arremetida lenta e calculada, tornando a sair com a mesma lentidão, e por vezes Elisa sente uma série de sacudidas breves que se expandem como em ondas concêntricas por todo seu corpo, estremecendo com sua passagem, como as ondas de um rio com as plantas aquáticas e os detritos que bóiam na superfície, todos os seus músculos. Por vezes, a cabeça avermelhada toca um ponto crucial, em alguma parte, no fundo, uma espécie de nó que lança radiações circulares e concêntricas que vão chegando, através dos órgãos, dos tecidos, dos nervos, dos ossos e dos músculos, até a pele, e como, antes de as primeiras terminarem de se expandir, a cabeça vermelha já está tocando o ponto outra vez, novas radiações se sobrepõem às primeiras, de tal modo que seu deslocamento sem fim se instala na mente e no corpo de Elisa, eliminando todo pensamento. Ao seu redor, todo o universo parece aniquilado, remoto; do homem que está entrando e saindo, ritmado, do seu corpo, de quem há alguns instantes sentia patente o órgão longo, duro e úmido, não sobra mais que uma massa vaga, confusa, que toca de vez em quando o ponto estremecedor. Conforme aumentam a freqüência e a intensidade das radiações, que vão sobrepondo-se, cada vez mais a boca, põe por fim a língua para fora, reta, tensa, avermelhada, que começa a umedecer seus próprios lábios e a vibrar esticada, rija, no ar, entre as comissuras, até se pôr a lamber a parede branca. Ao mesmo tempo, seus quadris entram em movimento, de uma maneira lenta primeiro, com um balanço da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, até que um novo movimento, circular, soma-se ao primeiro, de tal modo que a esfera compacta de suas nádegas, sacudida pelo ritmo complexo de seus movimentos, transmite as sacudidas ao corpo nu montado nela. Com o orgasmo, os corpos atingem o limite de tensão, que dura uns segundo, até que abandonando-se, sem perder a rigidez, deixam-se cair, estirados, um sobre o outro no lençol branco, duros e sobrepostos um ao outro como duas tábuas de madeira.
Ninguém Nada Nunca – Juan José Saer – Cia das Letras, 1997, p.161, 162.
Um comentário:
cada detalhe milimetricamente escrito e sentido e lembrado...
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