sexta-feira, 18 de maio de 2007
Encontro desnecessário
Nada daquilo deveria estar acontecendo. Tudo tão desnecessário, a situação, a pessoa. Não conhecia e sabia que não devia, havia sido alertada, daquelas que vivem para deixar as outras tristes e então saírem, ilesas. Tudo tão deliciosamente bom. Aquele barzinho sujo e charmoso e agradável e uma conversa suave e tensa e o beijo. Se sentia aprisionada, se sentia querendo. O beijo na nuca tinha feito com que perdesse o rumo, o juízo, a concentração, e não conseguia saber no que iria dar e sabia exatamente onde aquilo tudo iria dar. E aquela pessoa se transformando em desconhecida: finalmente podia olhar para ela sem medo e sem sabê-la, e tudo ia ficando complexo e a língua na nuca e estavam em casa – Está tudo tão gostoso, é melhor parar por aqui – Como se fizesse algum sentido. Como se fosse um absurdo. Estavam em casa, sutiãs e livros infantis e silêncio e pernas entrelaçando e sentidos despertando e florescendo incontroláveis, o hálito de cerveja. Estavam em casa. A janela aberta, a claridade da rua, as roupas desnecessárias, ela se entregava. O canalha sabia o que estava fazendo, jogava sujo. Era isso, um jogo, tudo não passa de um jogo, uma demonstração técnica, a exploração banal do corpo sem vida, sem ninguém dentro, do corpo que os olhos atravessam. Então a língua percorreu as costas enquanto as mãos reconheciam seios, ela sem reação, e percorreu ombros nus e braços, pêlos eriçados, enquanto as unhas cravavam nas costas úmidas, ela rendida, ela aberta, ela, ausente, e percorreu a barriga enquanto trazia para si com todo o corpo o outro corpo – Quando você quiser você me manda embora e eu obedeço – e entre dentes explorou perna e perna, como se houvesse algo proibido. Queria mandar embora e queria que aqueles beijos nunca acabassem e queria não pensar na irmã, só ter uma pessoa casar amor e o corpo santuário o corpo dedicado, e o hálito quente e gelado por todo corpo já úmido, escorregadio e proibia e pedia e era tudo tão intenso, tudo tão banal. Ele sobre ela com o corpo inteiro, com o corpo, inteiro, ela se entregava e pedia, proibia, ele penetrou e foi, nesse pouco, uma invasão, o outro (desconhecido e desnecessário) de uma forma inseparável insuperável rasgou abriu caminhos sem volta sem sentido urgentes ungidos na beleza desnecessária e fria e distante e irremediavelmente próxima uma união quase mágica religiosa. Nada daquilo deveria estar acontecendo. Estavam em casa. Dormiram de conchinha até que amanhecesse. Foi embora.
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2 comentários:
Esse texto é inédito?! Algumas partes parecem já conhecidas... ou será que sua forma de escrever já me é (tão) familiar?!
...
Acho que tenho me repetido mesmo...
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