Bom senhorita, depois da surpresa de descobrir um aniversário sem ser pelo orkut vou tentar te dar um presente. Talvez essa idéia do presente que poderia ser se fazer na vida do outro seja bem egoísta e egocêntrica, talvez, pensando e torcendo que você gosta de mim e gostaria de me ter presente, uma carta (escrita à mão para melhor reconhecimento e lembrança) seja um ótimo presente.
Resolvido o presente, fico pensando: porque, afinal de contas, eu quero te dar um presente de aniversário? Eu gosto de você sem saber exatamente a razão já que você brinca comigo, você não me conta várias coisas suas, é sempre grossa e rabugenta, muitas e muitas vezes atormentada ao extremo. Tá certo, podem ser esses os motivos, mas acho que muitos nem são e os outros não são suficientes.
(Retomo agora esse presente que comecei antes do seu aniversário, domingo triste, eu sentado no Espaço Unibanco na maior chuva, lendo um pouco de realismo fantástico, pensando que eu deveria ficar sozinho, que não estou dando certo com quem estou e esperando uma outra pessoa que com certeza não virá).
Eu gosto de não te compreender, do seu jeito genuinamente Clarice, imobilizada com os perigos que viver traz. Imobilizada e deslumbrada. Essa minha interrogação de você me coloca em constante curiosidade, curiosidade que talvez e tristemente só existe pela incompreensão. Seria por estarmos muito próximos? Ou por vivermos uma lembrança de um pequeno trecho nosso que acreditamos e esquecemos ser o outro inteiro.
Suas certezas me deixam admirado e intrigado, certezas atormentadas e conscientemente infundadas e tão retas nos seus caminhos tortuosos, tão mancas, tão firmes...
Adoro ainda o modo como somos distantes e nos afastamos, nossa impossibilidade de contato, nossa vontade. Quanto mais odeio, mais necessito dessa sensação, desse querer impossível, tosco e óbvio que tanto expõe minha impossibilidade de gostar de alguém, estar com alguém...
Se nossa afeição e proximidade com uma pessoa muda com o tempo é sinal da inconsistência das nossas relações. Se enxergamos e lembramos de nossos antigos amores a partir de como estamos nos sentindo e de como estamos percebendo eles hoje significa que ninguém vale pelo que foi, estamos afogados por aquilo que o tempo pode nos oferecer...
(Voltei do cinema, a menina não veio e o filme era sobre um cara que descobre que vai morrer e começa a brigar e se afastar de todo mundo. Eu ando assim, me afastando de quem eu gosto sem saber direito o porquê...) (Aliás, encontrei com uma paixão do 1o ano de faculdade e nem senti nada, no mínimo engraçado).
O que a gente vai fazer com a nossa vida? O que vamos nos tornar? O que estamos fazendo e nos tornando? Pra que essa vida? (Lembra do questionário?) Não pode ser só por pessoas que servem aos nossos interesses presentes e são descartáveis. De que serve a fotografia, a poesia, a psicologia, o cursinho??? Para aliviar nossas culpas? Para encontrar amigos, escolher uma família?
São só outras drogas como TV, cigarro, doces, política, internet (a de casa não tá funcionando e estou subindo pelas paredes), sorrisos, beijos, sexo, formas de disfarçarmos sensações e apressarmos o tempo e enganarmos nossa mediocridade e despistar a morte.
Pra que tanto esforço?
Pra que escrever uma carta? Não sei, mas escrevi. Talvez ela seja como um abraço forte quando você precisar, eu um pouco sério, um pouco besta, um pouco sorrindo, dois poucos dramático. Talvez seja uma disputa de histeria, uma resposta ao que você escreveu, um incentivo a você escrever mais.
Eu, presente no seu aniversário
Um comentário:
Um corre, o outro estanca
Um morre, o outro arranca
Um concorda, o outro sabe
Um transborda, o outro cabe
Um&Outro [Paulinho Moska]
Nem céu nem terra, um pouco misturado.
Nem tão categórico assim..
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