quinta-feira, 26 de abril de 2007

Jogo de Amarelinha - Júlio Cortázar

"Oh, Maga! Cada mulher parecida com você trazia como um silência ensurdecedor, uma pausa, rendada e cristalina, que acabava por murchar tristemente, como um guarda-chuva molhado que se fecha."

"Não estávamos apaixonados, fazíamos amor com um virtuosismo desligado e crítico, mas sempre caíamos, depois, em terríveis silêncios (...) Mais uma vez, eu a vi admirar seu corpo no espelho, segurar os seios com as mãos, como nas estatuetas sírias, e passar os olhos pela sua pele numa lenta carícia. Nunca consegui resistir ao desejo de pedir que se aproximasse, sentindo-a curvar-se pouco a pouco sobre mim, desdobrar-se outra vez, depois de ter estado por um momento tão só e apaixonada diante da eternidade de seu corpo"

"Abraçado com a Maga, essa solidificação nebulosa, penso que faz tanto sentido fazer um bonequinho de miolo de pão quanto escrever o romance que nunca escreverei ou defender com a vida as idéias que redimem os povos" (Aeee Marquito, lembrei de você nessa citação!)

"- Você nada conseguiria - disse ela. - Você pensa demais antes de fazer qualquer coisa.
- Parto do princípio de que a reflexão deve anteceder a ação, sua boba.
- Você parte do princípio - murmurou a Maga - Que coisa complicada! Você é como uma testemunha, como aquelas pessoas que vão ao museu e olham os quadros. Quero dizer que os quadros estão aí e você no museu, perto e longe ao mesmo tempo. Eu sou um quadro, Rocamadour é um quadro. Ettiene é quadro, este quarto é um quadro. Você pensa que está neste quarto, mas não está. Você está olhando o quarto, não está no quarto"

"Toco a tua boca, com um dedo toco o contorno da tua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e te desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto e que por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca que sorri debaixo daquela que a minha mao te desenha

5 comentários:

marcos disse...

correção da tag: citações bem-metidas. Meteu gostoso.
Saudade desse livro. A Maga foi bem zen (no bom sentido) nesse trecho do quadro.

Rubis disse...

hahahahaha. Adorei, vou modificar...

Ana disse...

Citação familiar...
Que bom que você anda gostando do livro..
Tinha me esquecido da parte dos quadros! É uma das que eu tinha marcado a lápis,achei foda!

Ana disse...

Ihh! Agora não dá mais p/ comentar sem ser usuário? esse blog não tá muito democrático..
não gostei.
(rs)

Marcelo disse...

Esse livro é fantástico mesmo.. de lá que havia tirado a idéia de, ao invés de colocar os links dos blogs, colocar umas citações..