sábado, 4 de março de 2006

Sessão Terapêutica

Série de Março: Conheça melhor o autor

Você vem me buscar. Te sigo fechando as três portas. Sento confortavelmente na poltrona. Esquenta, suo. Ventilador apontado para a calça jeans. Falo das mesmas baboseiras de sempre
- Não to conseguindo me fazer entender. Deixa eu pensar em uma imagem... É como se antes eu me esforçasse para andar de bicicleta, moto, carro, navio, avião, ônibus, asa delta, sand board. É como se me esforçasse para conseguir uma passagem, uma autorização, e desfrutar de um passeio de um dia. Agora, é como se eu tivesse meu próprio carro, não, melhor dizendo, como se tivesse meu próprio barco, e tivesse que me preocupar com a matunção do casco, das velas, com a rota. Antes eu podia dizer o que estava certo e errado, o que eu faria diferente, o que eu acrescentaria, agora não, eu consigo ver uma parte do que eu discordo, do que acho que está errado daquilo que eu estou fazendo, e preciso pensar em como mudar, como colocar em prática dentro de tudo o mais que preciso levar adiante, pensando nos riscos, nas consequências
- Você está se preocupando mais com a qualidade então?
- Não sei. Agora eu quero dar a volta ao mundo e não mais fazer um passeio, quero uma viagem. Mas será que vale a pena me dedicar tanto? Será que no fim não vai acabar sendo só um passeio mais longo? E por que viajar é o melhor nesse momento, ou até em qualquer momento? E o barco, é uma boa escolha? Por que não de carro ou avião? Eu poderia estar conhecendo outros meios de transporte...
- Você precisa recolher a âncora, senão vai ter muito mais trabalho e quase não vai sair do lugar, não vai desfrutar da viagem. É só recolher, você não vai ficar sem ela.
- Não posso fazer isso. A âncora não me deixa ir muito longe e caso eu mude de idéia, assim que eu mudar estarei mais perto para fazer o caminho de volta.
- E o que significa o barco pra você
- Sei lá, acho que escolhi por ficar entre o carro e o avião
- Você já andou de barco? Como costuma ser, para onde você costuma ir?
- Bom, não uso muito, costumo ir para ilhas, para pontos de mergulho. Os barcos me deixam em lugares onde posso submergir e voltar para cima seguro. Ou então para conhecer as praias por onde passei de um outro ponto de vista, vendo do mar, de longe, vista panorâmica
- Blá, blá, blá (conclusão do dia), nossa sessão acabou.
Saio. Passo por você com os olhos baixos. Deixo as três portas abertas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Talvez as três portas abertas sinalizem que o blá blá blá tenha servido para alguma coisa, não? Texto muito bom mesmo!
Abraços.