Cursinho. De novo?
Rubens (01)
Essa apresentação é toda estranha. Para começar, falaremos de cursinho, o que a maioria das pessoas não quer nem ouvir falar. Depois, ao invés de parabenizá-lo pela entrada no vestibular, gostaríamos de questionar os méritos que possibilitaram sua entrada na “gloriosa” USP. O discurso liberal oficial, no qual a maioria das pessoas acredita, é que a entrada no vestibular tem a ver unicamente com a capacidade, com o mérito dos candidatos. Assim, os mais aptos ou mais esforçados ou simplesmente os melhores passam por uma prova neutra e tem garantido o direito de estudar na “melhor universidade do país”. Sabia que, no ano passado, 42% dos inscritos na Fuvest tinham renda familiar até 1500 reais e entre os aprovados eles representam somente 22%. Os ricos têm mais méritos? Ou melhores condições de estudo? Sabia que, em Psicologia, os alunos que fizeram Ensino Médio em Escola Pública representam 46% dos inscritos (empatados com Escola Particular) e apenas 10% dos matriculados (contra 86% oriundos de escola particular)? Você se encaixaria em qual categoria de renda? Fez escola pública? Já havia pensado sobre essas questões?
Gostaríamos de apresentar o cursinho a partir dos critérios de seleção dos nossos alunos, pois as pessoas que aqui estudam definem o que somos e o que buscamos. São todos alunos pobres, provenientes de escolas públicas, em um total composto por, no mínimo, 50% de negros por auto-declaração.
As cotas fazem parte das chamadas políticas de ações afirmativas que visam oferecer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devidas à sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação. Apesar das críticas contra ação afirmativa, a experiência das últimas quatro décadas nos países que implementaram não deixam dúvidas sobre as mudanças alcançadas. No ensino superior a questão fundamental que se coloca é como aumentar o contingente negro nessa educação de modo geral, tirando-o da situação de 2% em que se encontra depois de 114 anos de abolição, em relação ao contingente branco que sozinho representa 97% de brasileiros universitários. Mais números, eles representam 46% da população brasileira e 70% da parcela mais pobre. Só 5% dos inscritos na FUVEST se declararam negros. Conte quantos negros fazem parte da sua sala. Alguns? São brasileiros? Coincidência? Falta de capacidade, dedicação?
O espaço é curto para diferenciar algumas linhas de argumentos utilizados contra e a favor das cotas, mas nos colocamos a disposição para aprofundar essa discussão.
Esse percentual de negros faz parte de um grupo ainda maior formado por estudantes de baixa renda. São poucos os que conseguiram concluir o Ensino Médio e estes encontram-se em condições menos favoráveis para o ingresso na Universidade. Essas dificuldades são muitas vezes devidas a uma formação deficiente e ao pouco tempo disponível de dedicação aos estudos ao mesmo tempo em que se trabalha. Foi nesse contexto que surge, em 1998, o Cursinho PSICO USP, como um meio paliativo de diminuir a distância entre aqueles que podem pagar um cursinho comercial e os que não podem.
Além da preparação para os exames e de oferecer condições de aprendizagem e estudo, esperamos que nossos alunos sejam capazes de pensar sobre o próprio vestibular, a desigualde social, as relações raciais, a pobreza, as possibilidades profissionais e de vida de cada um. O cursinho é parte de um projeto educativo que pretende construir outras relações entre professores e alunos e entre alunos e funcionários. Queremos saber o que o aluno pensa, que participe e critique e tentamos estar abertos para que atividades sejam propostas.
Buscamos ainda, por ser um cursinho na Psicologia, trabalhar com diversas frentes possíveis de atuação, pesquisa, diálogo com conhecimentos e com funcionários, professores e alunos da PSICO USP. Assim, seja bem vindo para conversar conosco da sala 30, com o Gui Pogibin, com a Bárbara, com a Elisa, com o Felipe, com a Fernanda, com o Rubens, com a Simone, com a Érica, com o Ronaldo, com a Letícia, com o Paulo...
Rubens (01)
Essa apresentação é toda estranha. Para começar, falaremos de cursinho, o que a maioria das pessoas não quer nem ouvir falar. Depois, ao invés de parabenizá-lo pela entrada no vestibular, gostaríamos de questionar os méritos que possibilitaram sua entrada na “gloriosa” USP. O discurso liberal oficial, no qual a maioria das pessoas acredita, é que a entrada no vestibular tem a ver unicamente com a capacidade, com o mérito dos candidatos. Assim, os mais aptos ou mais esforçados ou simplesmente os melhores passam por uma prova neutra e tem garantido o direito de estudar na “melhor universidade do país”. Sabia que, no ano passado, 42% dos inscritos na Fuvest tinham renda familiar até 1500 reais e entre os aprovados eles representam somente 22%. Os ricos têm mais méritos? Ou melhores condições de estudo? Sabia que, em Psicologia, os alunos que fizeram Ensino Médio em Escola Pública representam 46% dos inscritos (empatados com Escola Particular) e apenas 10% dos matriculados (contra 86% oriundos de escola particular)? Você se encaixaria em qual categoria de renda? Fez escola pública? Já havia pensado sobre essas questões?
Gostaríamos de apresentar o cursinho a partir dos critérios de seleção dos nossos alunos, pois as pessoas que aqui estudam definem o que somos e o que buscamos. São todos alunos pobres, provenientes de escolas públicas, em um total composto por, no mínimo, 50% de negros por auto-declaração.
As cotas fazem parte das chamadas políticas de ações afirmativas que visam oferecer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devidas à sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação. Apesar das críticas contra ação afirmativa, a experiência das últimas quatro décadas nos países que implementaram não deixam dúvidas sobre as mudanças alcançadas. No ensino superior a questão fundamental que se coloca é como aumentar o contingente negro nessa educação de modo geral, tirando-o da situação de 2% em que se encontra depois de 114 anos de abolição, em relação ao contingente branco que sozinho representa 97% de brasileiros universitários. Mais números, eles representam 46% da população brasileira e 70% da parcela mais pobre. Só 5% dos inscritos na FUVEST se declararam negros. Conte quantos negros fazem parte da sua sala. Alguns? São brasileiros? Coincidência? Falta de capacidade, dedicação?
O espaço é curto para diferenciar algumas linhas de argumentos utilizados contra e a favor das cotas, mas nos colocamos a disposição para aprofundar essa discussão.
Esse percentual de negros faz parte de um grupo ainda maior formado por estudantes de baixa renda. São poucos os que conseguiram concluir o Ensino Médio e estes encontram-se em condições menos favoráveis para o ingresso na Universidade. Essas dificuldades são muitas vezes devidas a uma formação deficiente e ao pouco tempo disponível de dedicação aos estudos ao mesmo tempo em que se trabalha. Foi nesse contexto que surge, em 1998, o Cursinho PSICO USP, como um meio paliativo de diminuir a distância entre aqueles que podem pagar um cursinho comercial e os que não podem.
Além da preparação para os exames e de oferecer condições de aprendizagem e estudo, esperamos que nossos alunos sejam capazes de pensar sobre o próprio vestibular, a desigualde social, as relações raciais, a pobreza, as possibilidades profissionais e de vida de cada um. O cursinho é parte de um projeto educativo que pretende construir outras relações entre professores e alunos e entre alunos e funcionários. Queremos saber o que o aluno pensa, que participe e critique e tentamos estar abertos para que atividades sejam propostas.
Buscamos ainda, por ser um cursinho na Psicologia, trabalhar com diversas frentes possíveis de atuação, pesquisa, diálogo com conhecimentos e com funcionários, professores e alunos da PSICO USP. Assim, seja bem vindo para conversar conosco da sala 30, com o Gui Pogibin, com a Bárbara, com a Elisa, com o Felipe, com a Fernanda, com o Rubens, com a Simone, com a Érica, com o Ronaldo, com a Letícia, com o Paulo...
2 comentários:
Gostei do texto. Mas aquele parágrafo... arruma vai?! Tá feio e estranho e incoerente.
Bjo
(Digo isso porque, como sua futura editora, preciso das coisas em ordem,bem escritas, como você sempre faz!)rs
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