domingo, 30 de outubro de 2005

Manifesto

Esse manifesto foi o que eu, o Danilo e o Marcos fizemos para avaliar a gestão do CA para a galera da faculdade. Provavelmente agora teremos uma chapa que acredita no oposto do que fizemos. Pessoas politizadas que eleverão o grau das discussões, líderes e modelos a serem seguidos, baseados nos ensinamentos de Marx. Vai ser uma gestão engraçada. Se der certo, apostamos em um caminho errado e as pessoas necessitam de líderes que as conduzam. Se der errado, vai ser engraçado por outros motivos...
Essa não foi a última versão, mudamos um pouco o último parágrafo, mas não tenho aqui.

Considerações Outras Palavras: Manifesto sobre nossas experiências
Desde a constituição da chapa “Outras Palavras” tínhamos como preocupação e uma das propostas a elaboração de uma avaliação de nossa gestão (caso viéssemos a ser eleitos, é claro). Isso porque acreditamos que um dos grandes problemas do Movimento Estudantil, responsável em grande parte por sua desarticulação e desmerecimento, se deve à característica cíclica de seus integrantes. O estudante está aqui na universidade por apenas 5 anos (em média, digamos...), e quando ele tiver adquirido uma boa experiência sobre as relações institucionais e políticas, terá se formado, e (o que geralmente acontece, infelizmente) levará essa experiência consigo. Ao nosso ver, o acumulo de experiência deve ser valorizado, pois só assim poderemos construir um Movimento, sem perpetuar os mesmos erros. Não se pode perder de vista, contudo, que o aspecto da freqüente renovação dos estudantes no ME é o mesmo que lhe concede sua maior virtude: sua força questionadora e originalidade de suas ações, pois a cada grupo de estudantes contribui com novas idéias não cristalizadas.

Como continuidade dos nossos trabalhos na gestão do CAII, estivemos nessas últimas semanas realizando uma avaliação interna. Em um documento mais extenso, fizemos um exercício de memória procurando organizar e refletir sobre nossas experiências ao longo da gestão “Outras Palavras”. O documento aqui apresentado é um resultado desse processo de compreensão dos acontecimentos (sejam eles de ordem pública, privada, política, pessoal, externos ou internos ao IP), que muitas vezes nos atropelam, deixando uma sensação de que nunca conseguimos refletir o quanto gostaríamos sobre nossas ações. Achamos importante trazer aos estudantes do IP nossas reflexões nesse momento crucial que é o de eleição e troca de gestão do CAII.
O primeiro momento dessa reflexão diz respeito à democracia representativa, questão trazida desde nossa proposta inicial e que retomamos nesse momento. Nesse modelo, temos algumas lideranças políticas, pessoas que se dispõem a dedicar sua vida ao bem público e às ações que são de interesse geral da população ou de uma parcela. Eles têm algumas idéias e concepções pré-definidas e prometem defendê-las nos espaços em que elas podem ser colocadas em prática, podem virar regras e planos de ação governamental (políticas públicas). A mídia acompanha a ação dessas pessoas e sempre que descobre irregularidades denuncia e, dependendo da gravidade, deixamos de votar na eleição seguinte, ou até mesmo, propomos um impeachment e votamos em outra pessoa. Assim, o Centro Acadêmico procura reproduzir esse modo de funcionamento, com a votação em representantes, com um mandato definido, que vão levar suas bandeiras para que sejam efetivadas ações que dizem respeito a todos os estudantes da Psico USP.

Consideramos essa concepção de funcionamento ruim por alguns motivos. Um dos problemas é que, uma vez efetivados no lugar de representantes, qualquer coisa pode ser feita em nome de todos como, por exemplo, trancar o telefone ou parar de publicar o BOCA. Um outro aspecto é que tal estrutura favorece que as pessoas fiquem no lugar de “reclamadores passivos”, já que seu momento de participação se resume à eleição. Isso implica uma desresponsabilização da maioria, que não tem acesso ao espaço em que são tomadas decisões e feitas discussões, delegando apenas aos eleitos a responsabilidade por estas. As pessoas cobram mas não se implicam no que está acontecendo.

Com a proposta de 'Outras Palavras' tínhamos como objetivo desconstruir esse modelo tradicional de representatividade. Para tal, tentamos reduzir a distância entre os estudantes e os espaços públicos de discussão da Universidade. Isto implicava, num primeiro momento, desmontar a estrutura hierárquica nos espaços de decisão do CAII, assumindo cada estudante da Comunidade como um sujeito politicamente ativo, ainda que com diferentes ou opostas posições, uns em relação aos outros. Consideramos que diferentes formas de participação, ou passividade, precisam ser entendidas dentro de um contexto mais amplo, como efeito de estruturas e práticas repetidas entre estudantes do IP. A gestão do CAII assumiria, dessa maneira, não a posição de propor ações a serem executadas ao longo de sua vigência, mas sim colocar em interação diferentes vozes que permeiam o contexto social do IP. Essas vozes teriam seu espaço de expressão e legitimação pública através das reuniões do CA, com decisões democraticamente tomadas por seus participantes. Com transparência nas instâncias econômicas e de poder pretendíamos valorizar o potencial político de sujeitos mais novos e interessados em participar do Movimento Estudantil. Estes se organizariam em pequenos grupos que atuariam sob questões que estes considerassem mais pertinentes, com suas novas maneiras de propor e realizar melhorias públicas. À gestão do CAII caberia discutir maneiras de viabilizar, articular e apoiar um maior número de participações, com qualidade, em diferentes âmbitos que envolvessem os interesses dos estudantes.

Não pensamos que nossa gestão tenha dado conta de criar mecanismos suficientes para substituir por completo a antiga forma de funcionamento. Não conseguimos resolver muitos problemas e contradições dos modelos tradicionais que regem os espaços de discussão e decisão. No entanto, acreditamos que algumas idéias, que colocamos em prática, são fundamentais para que esses espaços tornem-se mais propícios à construção e concretização de ideais coletivos. São elas:

- Divulgação de discussões que estão por vir, de decisões tomadas e dos gastos de dinheiro. Isto aumenta a transparência e a possibilidade de acompanhamento do que é feito em nome de todos.

- Pautas construídas por todos e reuniões temáticas, que incentivam a participação e a implicação dos estudantes interessados por cada tema.

- Reunião de planejamento amplamente divulgada; medida que possibilita elencar prioridades de ação e gasto de dinheiro com todos os estudantes, pensando, entre os interessados, aquilo que é mais importante.

- Avaliação ao fim da gestão levando em conta avanços e retrocessos em relação ao que queríamos, medida que ajuda a chapa seguinte a não precisar “começar do zero” e a construir a memória do movimento estudantil.

Não conseguimos mais nos constituir como o grupo estudantil em busca de uma determinada causa, que em si mesma mobilize as ações de cada estudante. O que temos hoje, é uma pluralidade de causas e interesses, e como conseqüência pequenos grupos que se reúnem e agem de acordo com suas pertinências. As ações desses grupos, portanto, que são de cunho político, precisam de um espaço público para se expressarem – ou seja, se constituírem como política efetivamente. Esse espaço é o CA, portanto participar da direção do CA perpassa por reconhecer essa realidade fragmentária e estabelecer uma maneira de lidar com tal cenário. Percebemos atualmente que as tentativas de mobilização dos estudantes têm sido insuficientes com relação aos anseios de mudanças e melhoras da universidade pública e da Psicologia enquanto profissão. É importante, desta forma, continuarmos a refletir sobre as formas de se fazer e agir politicamente, procurando renova-las de acordo com nossas condições concretas atuais.

Danilo
Marcos
Rubens

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu, alienada, agradeço a bondade de meus coleguinhas conscientes e politizados pelo grande prazer de ser por eles liderada! Quem venham os grandes seres do saber supremo! Louvado sejam os marxistas!!!
(hehehe =P)

Flor disse...

eiiiii eu assinei isso ai tb!!! (mesmo que ultra atrasada hehehe)

Danilo SG disse...

O que é dar certo?

Rubis disse...

Quando pensei em dar certo seria obter reconhecimento das pessoas, aumentar a participação e ter as propostas respondidas pelo IP.