Quando me perguntam como estao as coisas por aqui fico inquieto, incomodado, e a verdade é que nao sei muito bem o que responder.
Já nao sou um viajante, um trotamundos como me disseram por aqui. Estou parado. Tenho residencia fixa, conta em banco, número de seguridade social. 3 meses inteiros. As pessoas já ficando impacientes com o catalao que eu nao aprendo. E agora? E daí? Y que?
Meu futuro eu já tenho mais ou menos planejado. Mas tenho desenhados na mente uns 5 ou 6 roteiros que dependem de como trabalho e coraçao vao estar dentro de alguns meses. Nao posso fazer nada agora. E os planos, por sua vez, sao abertos e possibilitariam dezenas de vidas de Rubens 2008.
E meu presente nao é sólido, me escapa por entre os dedos, desaparece ou se transfigura enquanto pisco os olhos. É como se o trem tivesse parado e tudo o que eu vejo pela janela continuasse, riscos rápidos e sumiços. E também se movem a cabine e as pessoas sentadas perto de mim.
Tenho a sensaçao de primeira semana de aula: Querendo agradar a todos (auto-imposiçoes) e abrir portas; a assustadora impressao de que meus defeitos e deslizes, se expostos, farao com que todos me odeiem; essas idas e vindas, quase danças de acasalamento, gosto de voce, acho que seremos melhores amigos, nao se despede e penso que ja nao gosta de mim, nos encontramos por acaso, me conta sua vida, de repente acaba a vontade, agora é amigo do meu amigo, me reaproximo, diz algo e me vou, bebemos juntos e te abraço. Só que nao tenho minha mae pra contar na mesa do jantar, nem melhor amigo pra telefonar, sem namorada pra esquentar o pé, dividir a colcha e sussurrar no ouvido todas essas bobagens adolescentes.
Sinto falta das pessoas de quem gosto. Cada dia lhes dou mais valor, ou reconheço o valor que já têm, cada dia com a certeza de que serei mais carinhoso com eles. E atento. É a distância aproximando as pessoas. Estou tranquilo de que estarao ai quando eu voltar. O que me tira o sono é nao saber quando isso vai acontecer.
No trabalho tenho um horário escroto, mas de Marajá. Imagina, em um mes, trabalho, sábado e domingo, descanso de 2a a 6a, trabalho sábado e domingo, descanso de 2a a 6a, trabalho de sábado a sexta e descanso de sábado a sexta. 11 dias por mes. Posso fazer o que quiser nesse tempo, viajar ou o que seja. Em geral faço horas extras e uma semana cada mes ou mes e meio viajo. Já estive em Madri, Paris, Porto, Londres. Mes que vem será Marrocos e talvez sul da França. Além disso aos domingos o objetivo é passear, ou seja, estou conhecendo a regiao da Catalunia por aqui...
Nao ganho bem comparativamente, mas economizo em euros. Nunca quis trabalhar com loucos. Estou aproveitando, mas tenho horas que penso que estou perdendo meu tempo. Uma das coisas boas é aprender a me relacionar e a desenvolver um trabalho com poucas pessoas, sem desculpas de falta de tempo e o caralho para as minhas falhas. Aprendo também a cuidar de uma casa e a planejar meu tempo para isso, justo eu que estou fora de casa ou dormindo. O projeto de memória estou no meio do processo das entrevistas. Outro ponto que gosto é poder pensar e intervir na instituiçao sem estar em posiçao privilegiada ou reconhecida para tal (aliás, minha funçao é Serviços Gerais, fazemos desde troca de lâmpadas a contençao de pessoas em surto tentando assassinato, passando por contabilidade e contabilidade). Esses dias fiz uma avaliaçao das pessoas que trabalhavam comigo em uma reuniao. A idéia era tentar melhorar o que acontece por ali, nada mais, nem trabalho mais por lá. Acho que fui mal recebido (a avaliçao era bem dura e eu só tava ali fazia um mes). Depois da reuniao teve uma monitora que me chamou pra conversar e acabou comigo, disse que nao queria ser entrevistada por mim no projeto de memória, que eu trabalho mal, que nao fui companheiro., entre outras coisas. Estava com bastante raiva. E disse que eu tinha razao em tudo o que eu tinha dito. A verdade nao deve ser dita... Também sinto falta de mais troca intelectual, feedback e tal. Em relaçao a cuidado com os funcionários (como eu), os responsáveis-chefinhos sao bem amadores, nao fazem muito bem, e eu com vááááááárias idéias, vamos ver como se desenvolver a coisa.
Nao sei se me interessa ficar mais tempo ou nao. Um dos planos é ficar até Março e começar a viajar. Outro é pelo menos até Agosto, ir nas férias pro Brasil, voltar e ou viajar, ou trabalhar até o ano seguinte no mesmo lugar ou em outro.
Com o tempo estou ficando cada vez mais orgulhoso do Brasil, mostrando lugares para viajar, músicas e ensinando portugues para os conhecidos. Ensino para uma, emprestei um livro para outra e já tenho mais dois interessados.
Estou fazendo aula de desenho e acabei de descobrir o carvao. Estou na terceira aula e por enquanto é só sofrimento. Começo a me dedicar a aprender catalao, mais por consideraçao as pessoas. Leio de vez em quando em castellano e me dizem que estou melhorando, só preciso encontrar um livro de gramática para dar uma lida e os pronomes me dificultam a vida. As fotografias vao bem, muitas coisas para ver, olhar cada vez mais treinado, lentes novas, a técnica se desenvolvendo, muitas exposiçoes e livros a disposiçao.
Com as pessoas é estranho. Tem umas que trqabalham comigo e sao mais velhas que eu gosto muito, me ensinam coisas, estao sempre ajudando, contando histórias, dando dicas de lugares aqui por perto, coisas a fazer. Tem os mais jovens com ideias mirabolantes, saídas para cerveja, trocamos idéia, mas precisava de mais, de mais presença, mais contato, mais carinho. O problema é que eles sao todas as pessoas que eu conheço e eles tem uma vida afetiva para além de mim com família, amigos, namorados, horários mais normais de trabalho, etc. Reflexoes interessantes sobre como se fazem as relaçoes humanas, como se iniciam, quais as condiçoes em que se desenvolvem e como isso influencia em como sao.
E por fim os planos de viagem, que sao grandiosos. Por enquanto, nessas ¨saidinhas¨quero ver os fiordes da Noruega, comprar um kilt na Escócia, me drogar acompanhado por prostitutas em Amsterdam, talvez uma passada pelas ilhas italianas. Depois Leste Europeu, Russia, trem cruzando o pais até a China pela Mongólia, aproveitar a China e chegar na Índia pelo Nepal. Sei lá...
2 comentários:
Caralho! Viajar é o mais louco. Foda é aguentar o cotidiano vazio, como moeda de troca por essas comodidades. Não ter família, nem amigos legítimos, nem os esqueminhas fáceis das gostosas brasileiras.. é, rubão, liberdade?? hahahahaa...
feliz ano novo, Rubao!
gostei do seu texto.
abraços
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