quarta-feira, 4 de abril de 2007

Quase seis

Completava o tambor. Seis vezes. Tudo em prata. Reluzente, a luz de começo de manhã que entrava lateralmente pelas persianas e tornava aquela sensação toda de perigo mais excitante, mais bonita, mais hollywoodiana. Bateram na porta, dois amigos. Fomos para a varanda conversar. Eu te conferindo com olhares, não faça nenhuma bobagem, não dê motivos, como se fosse um assaltante, como se tivesse te sequestrado, como se, em silêncio, te ameaçasse, te negociasse tentando comprar o seu silêncio. Queria que a partir dali você não se dirigisse a mais ninguém que não eu, e eu seria seu único. Eles foram embora. Nós voltamos para dentro, meu mundo protegido de olhares alheios e respirado por persianas. Começo então a atirar em você. Mãos e pernas. De modo que você não morra. Na verdade, nem chegava a sangrar. De tão preciso, premeditado, cruel. A crueldade sempre é precisa. Foram cinco disparos e me dei conta: Teria que te matar se não quisesse ser descoberto, você não estava nada satisfeita com o que eu estava fazendo, parecia esperar um momento de distração. Mirei sua cabeça, a arma parecia pesada, minha mão tremia. Cena da mocinha que em um momento de reviravolta da trama pega a arma e pode atirar contra o bandido que por sua vez faz de tudo para tirar a concentração dela, tomar o revólver, reestabelecer o equilíbrio injusto do mundo (Você me odiava, tremendo de frio e dor e medo desejando minha destruição completa). A mocinha, como qualquer bom cristão, deve desistir de matar e assim continuar do bem, continuar sofrendo, se safando... Continuar mocinha. Eu era a mocinha que desistia de matar (bom cristão arrependido), você correu tentando acordar todos. Um último pedido ameaçador, levanto a arma com uma certeza firme. Espere até domingo para avisar a polícia, sábado tem uma festa imperdível...

Um comentário:

Anônimo disse...

(pra ler ouvindo: Zeca Baleiro. Bicho de sete cabeças.).

Passou tempo pra c... eu sempre pensando em você, sempre querendo aquele ombro que tanto me fez bem naqueles dias de confusões mentais, e descobertas da alma... aquelas piadas, aquele sorriso... cá estou eu agora, bem diante da oportunidade de dizer tudo, e não vou conseguir dizer nada... Rubão meu querido... vc é o cara que eu queria ter como meu vizinho, aquele bem ali do lado... bem perto... sem noção... mas sinto sua falta pós EIV... e é falta de verdade, e não só por dizer...