"Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por ai feito roda-gigante, com todo mundo dentre, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante”
Caio Fernando Abreu –Dama da Noite.
A questão era um medo de si. De se entregar a seus desejos, sentir, gozar. Não podia, não podia! Já tinha ido longe demais! Pessoas desconhecidas, bar a meia luz, cerveja, beijo na boca ferida. Corpo cheirando a cigarro, óculos sujos. Vontade de deitar nua, de sentir aquele arrepio que percorre o corpo quente. Saliva grudada no rosto, no pescoço, na orelha... vontade... vontade... vontade... foi tanta vontade, foi tão de verdade que não agüentou. Podia mesmo? Merecia ser? Merecia sentir? E sentiu medo. Medo de ser.
O que poderia ser pior,
Se sou gorda, sou porca,
E ainda ando torta?
Se meu rosto é fofo,
Mas o resto é tão bizarro?
Se sou mais repugnante que um catarro?
Se grito surto, e ainda peço ajuda
Se falo tanta merda,
Que era melhor se eu fosse muda?
Não nado com você, pois você só me afunda..
Contente-se então com a minha bunda!
Nenhum comentário:
Postar um comentário