Zero a zero?

Passei o carnaval sem beijar absolutamente ninguém. A festa da quebradeira, de enfiar o pé na jaca, o extravazamento antes da quaresma que prepara para a volta de jesus, a festa profana. De sexta à quarta passei quase sem nenhuma vontade. Quase porque sempre que se conhece alguém tem sempre sempre aqueles momentos de simpatia mútua e irrestrita, de perfeito encaixe, de achar que a pessoa além de linda é tuda de bom e rola uma química e tal. Depois quase sempre passa. Mas enfim, tirando esse primeiro momento que eu tive uma vontadezinha não rolou mais, queria mais ficar em casa jogando poker, fumando um cigarrinho de corda (importado lá do assentamento), tomando capote nas dunas com o sandboard, entre as pessoas que eu conheço, amigos, para os quais não preciso me comportar para agradar, não preciso me vestir bem, não preciso ser nem perfeito, nem simpático, não preciso causar aquela primeira impressão essencial pra quem caça aquela paia de ser um cara compreensivo e machão, quente e engraçado, rico, cheiroso, que acorda de manhã sem bafo, além de não ter nenhum problema e ser um cara de bem com a vida. Cansei de me esforçar e gastar horas pra conseguir um beijinho ou uma trepada com uma pessoa que eu mal conheço e que provavelmente não vai atender às minhas expectativas que são sempre altas e nem vai ser uma pessoa da qual eu vou gostar ou com a qual poderei contar daqui algum tempo.
Na verdade já sabia disso tudo, só não tinha perdido a vontade de beijar as gatinhas da balada. E realmente elas são bem mais saradas e lindas e maquiadas e gostosas do que qualquer pessoa que eu conheça. Não sei se porque eu acabo valarizando aquilo com o que eu ainda não me acostumei e na verdade conheço várias mulheres maravilhosas só que nem reparo mais nelas sob esse aspecto, já que elas viram pessoas de carne e osso, ou se não conseguiria conviver e por isso não tenho amigas que se cuidem tanto e se preocupem tanto com a aparência. Tanto faz.
Sei que no próximo carnaval posso ir para um retiro ou me preparar para dançar o feriado inteiro sem o menor remorso. Que bom...