segunda-feira, 18 de junho de 2007

Projeto limpando a bagunça

Bom, a quantidade de rascunhos nesse quartinho de fundos, como devem imaginar, é gigantesca. Papéis por todos os lados. Como vou viajar, o plano então é ir publicando o que for possível nessas próximas duas semanas que é o que falta, e depois com o tempo vocês vão lendo.



Você realmente não sabe mais o que fazer não é? Nunca soube? Quis te deixar à vontade, quis que você determinasse o que era bom, o que poderíamos fazer juntos, o que era nosso, o que era nós, que você imaginasse, sentisse, quisesse. Você não tem iniciativa, nunca teve e eu sempre soube, como se eu fosse o macho da relação, tendo idéias, te puxando, só faltava te comer. Ao me deixar levar, paramos. Estagnados. Sem vida. Agora, por você, já não posso mais.
- Acho que a gente deveria se separar de vez
Suas costas encolhidas e tensas enquanto você amarra o tênis. A última vez que eu vejo essa cena-de-todo-dia? Não! Volta! Por favor... Mas voltar pra quê, eu ando cansada: 3 anos... ou cansei faz pouco? Seus pesos nas minhas costas como se eu fosse de ferro. Forte e homem. Ou como se seus problemas fossem maiores do que os de qualquer um, tanta arrogância... Acabou, entenda, não aguento mais sentar sempre e a cada dia do seu lado direito e o café sempre mamão papaya e quejo fresco, chega, por isso eu queria outras pessoas. Ou será que não? Eu queria e só! Mas me culpava... Essa moral cristã que colocam na nossa cabeça e está por todos os lados, por todos os poros. E eu, que ando cada vez mais ciumenta, acredita? Culpa sua, tudo culpa sua, culpa da sociedade e queria te fazer sentir bem e pra isso me anulei, anulei nosso namoro, nosso casamento, preciso me reinventar e você com seu peso e carregando o mesmo, esse mesmo tão confortável e detestável. Gosto de você ou da companhia de alguém? Preciso de você? Meus amigos certamente comemorarão e me perguntarão porque não fiz antes, mas antes era impossível, como está sendo agora. Por que você me deixa confortável? Gosto de você porque você me puxa pra baixo, porque você nunca leva nada na brincadeira e quer discutir por horas o lugar do copo na mesa, se a pasta é pra se apertar em qualquer lugar ou da bunda em direção ao bico? Gosto de você porque sou muito melhor?
- Acho melhor você ir embora...
Que merda, me sinto responsável por todo seu sofrimento, por todo peso que carrega nas costas e que dividia comigo e pela sua incapacidade de rir, de brincar com tudo o que acontece e por isso não posso mais, todo esse peso que não é meu e que me pesa mais e mais. Na porta do elevador vacilo. Costumava dar um tchauzinho alegre antes da porta fechar e agora isso me parece tão violento e ainda assim necessário... Vou. Você está arrumando o cabelo no espelho? Depois de tudo você arruma o cabelo??? Se assusta e isso me tira todo o peso, tanto peso. Volto flutuando e na sala há uma lagartixa, bem do lado da janela. Acabou de entrar. Paraliso.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Costumava dar um tchauzinho alegre antes da porta fechar e agora isso me parece tão violento e ainda assim necessário..."

Adoro esses pequenos trechos que projetam pequenos filminhos em nossa cabeça. :)
E tão reais...

Abraços!

Carolina disse...

Eu, me identificando com o texto, rindo demais e achando triste... estou ficando louca! rss
Gostei muito do conto. Depois faço, se quiser, meu papel de editora, desprezada qdo vier a fama, e mando uns comentários "mais técnicos".
=P