Uma pessoa me definiu como o boêmio, que seria um vagabundo que ainda não conseguiu se desvencilhar das obrigações morais do trabalho. Uma pessoa sempre na festa que ainda não consegue aproveitar tudo que a vagabundagem tem a oferecer. Não sei se gostei, mas ainda não me desvencilhei...
Lembrei de um poema que eu escrevi para ele há um bom tempo...
O pássaro e o jardineiro
Cuidando do jardim
lá está João.
Paciência,
esse é o tempo dos girassóis,
das rosas, das margaridas,
flores simples, sem pressa,
sabedoria,
ao contrário do que pensam
não se abrem pra sobreviver,
mas por alegria,
lá está ele.
Humilde,
saboreando cada sorriso,
nosso João-de-Barro passa força.
Constrói a casa,
mas é passarinho
pobrezinho,
olhares-pedra o derrubam,
palavras-tiro.
Por reverência à vida
nosso João canta
rouxinol
“é melhor dar uma palhaço
a deixar fechada uma porta da consciência”.
Passa por João-ninguém
nosso João de todos,
está a cada hora num lugar,
é como a felicidade
efêmero, fugaz,
deixa os risos e se vai,
pôr-de-sol, céu vermelho,
missão cumprida.
Mas procurar o João pra agradecer
não passa de bobagem.
Só com tempo pouco
tira-se fardo de alma de gente,
e assim o faz
lembrando em cada um
o jardineiro que espera
o pássaro que não desespera.
Por favor, João
não escuta os homens,
eles só dizem o que fazer.
Continua a ser João
que encanta
o que vê,
que vê
e só,
pois “Pensar é estar doente dos olhos”
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