quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Ele, eu e você

Ele colhe cuidadoso tudo o que a terra oferece, explora cada ramo e galho, pequena flor e alta árvore, encosta e entranha com olhos precisos, olhos-cirurgiões, eficiente. Cada vez mais rápido. Passa, colhe e segue. A terra torna-se infértil. Esgotada? E onde pisava o cavalo a grama desaparecia e não mais nascia. Recusando-se talvez a mãos menos precisas e eficientes e rápidas.

Eu experimento. Tentando entender quais as melhores condições de colheita e plantio, a época do ano, a água necessária. Busca da máxima fertilidade do sólo, das mais adequadas mudas, me deleito com cada pequeno resultado e exigo, agarro, despreocupado e aleatório, frutos e grãos e provo e imagino amanhã e depois e depois. Até sentir ter reunido as melhores condições. Até conseguir visualizar um limite que ainda não existe, potencial máximo inatingível. Às vezes árvores e plantas murcham. Estariam a minha espera? Outras, se oferecem prontas e maduras ao viajante seguinte.

Você semeia buscando os espaços que melhor responderiam ao seu plantar. Ao começar a brotar, do alto do trator, você revira e mói e explora e recomeça. Novamente despontam vidas novas. Repete-se o procedimento trator padrão. E o sólo cada vez mais fértil. E novamente e sucessivamente. Quando, já sem forças, cansados de tanto não serem, de tanto abandono para nova busca, brotos e sementes dirigem a você uma interrogação - Eu disse que estava fertilizando? Não... Me desculpem, não prometi nada... - E não olha para trás.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lembro disso...

Carol

Anônimo disse...

"Il a toujours quelque chose de absent qui me tourmente." [Camille Claudel numa carta à Rodin]
E quem nunca sentiu isso?

(ao querido escritor de espírito francês)
beijos introspectivos

Danilo SG disse...

As pessoas são mesmo diferentes...