Sobre a ironia e sarcasmo e humildade e aprendizado

Estava um dia desses conversando com alguém sobre o quanto eu procurava me afastar das pessoas por ser irônico e sarcástico. Aí me dei conta de que não sou mais. Pensei no cursinho e em largar o CA e suas discussões estéreis, pensei em morar sozinho, pensei em me formar, em me sustentar. Lembrei de um trecho do livro que estou lendo, Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke. Caiu como uma luva. Só não sei se sumiram ou se transformei em outra coisa...

"Não se deixe dominar por ela (a ironia), sobretudo em momentos estéreis. Nos momentos criadores procure servir-se dela, como de mais um meio para agarrar a vida. Utilizada com pureza ela também é pura e não nos deve envergonhar. Ao verificar, porém, que se familiariza demais com ela, temendo uma intimidade excessiva, volte-se para objetos grandes e graves, diante dos quais ela se encolhe desajeitada. Busque o âmago das coisas, aonde a ironia nunca desce; e, ao sentir-se destarte como que à beira do grandioso, examine ao mesmo tempo se essa concepção das coisas deriva de uma necessidade de seu ser. Sob a influência das coisas graves, com efeito, a ironia ou o abandonará por si mesma (se tiver sido algo de ocasional) ou então se reforçará (caso lhe pertença como coisa inata) num instrumento sério, enquandrando-se no conjunto dos meios com o que o senhor deverá moldar sua arte"

Logo em seguida fala de um mal de quem entra na USP, e é pisciano, e é mimado e convencido, e é muleque, de achar que sabe tudo ou pelo menos está prestes a descobrir.

"O senhor é tão moço, tão aquém de todo começar, que lhe rogo, como melhor posso, ter paciência com tudo o que há para resolver em seu coração e procurar amar as próprias perguntas como quartos fechados ou livros escritos num idioma muito estrangeiro. Não busque, por enquanto as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não as poderia viver. Pois trata-se precisamente de viver tudo. Viva por enquanto as perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que o perceba, num dia longínquo, consiga viver a resposta."