domingo, 18 de junho de 2006

saturado

Dia do primeiro jogo do Brasil, terça-feira, lá pelas 3 da tarde, eu começo a apressar minha mãe. Vamos que não vai dar tempo, pára de se consultar de uma vez e me dá uma carona. Buzinas. Saímos, avenida Brasil. Parada. Buzinas, cornetas. Vários atalhos, já que as vias principais estavam entupidas, avenida Brigadeiro Luís Antônio. Parada. 23 minutos para andar uma quadra. Buzinas, cornetas, pessoas correndo, verde e amarelo. Comecei a ficar muito ansioso, alhava por todos os lados. Essa copa invadindo nossas vidas sem nos dar a opção de ficar alheios, maldita globo. Desiste, vamos pra casa que pra lá deve estar mais vazio. Tudo parado, cornetas, pessoas verde-amarelas correndo, bares empilhados, galvão bueno. Essa cidade está saturada. Lembrei do episódio do PCC. Qualquer acontecimento e a cidade não da conta. Nas emergências teremos que ter algums horas de antecedência. Foi bom ver a cidade parada por um motivo mais feliz. Carros batendo, ansiedade rasgando, ninguém saindo com mais antecedência pra dar tempo de fazer tudo, mas era um motivo feliz. Até o jogo começar. Que tristeza.

Esses dias me disseram que eu gosto de um jeito saturado.

As definições de saturação, saturar nos dicionários dizem de embebido, impregnado completamente, farto, saciado, cheio, enfadado. Foi uma bela descrição. Não entendo direito o porquê dessa necessidade, mas sempre encontro-me cansado e quando descanso procuro logo em seguida cansar-me novamente e assim por diante. Como agora, passando horas e horas na internet. Evitar pensar, evitar sentir.
Sempre que descanso tenho sonhos bizarros, sempre que descanso não consigo dormir. Resta assistir tv. Resta passar horas na internet e me encher de compromissos. Comer, comer, comer, sair, encher a cara. Excessos de sensações, excessos de pessoas, excessos de histórias, de compromissos, responsabilidades. Excessos para não sentir, ou porque o limiar de sensibilidade já foi alcançado e saturou? Cadê todo mundo nessa história? Cadê cada um que estaria nessa história? Cadê eu? Estar sempre ausente das situações, dos momentos que penso que vivo. Pra quê tudo isso?

Quando eu viajo - pelo menos até hoje - consigo estar completamente atento ao que se passa a minha volta, escrever, sentir, tirar fotos maravilhosas, conhecer pessoas, conversar com quem foi comigo, fico atento. Será que me canso do que vejo mais do que uma vez? Não sei, só sei que preciso sair da minha vida de uma vez por todas. Estou sempre no que um psicanalista chamaria atenção flutuante, mas chega de estar a deriva! Sumir para me encontrar. Fugir? Férias já não são o bastante. Qual será o sentido da vida? Claro, a respostinha pronta vem na mente, o sentido da vida é vivê-la. Mas não, basta de mediocridade! Basta de ser só isso, porque desse fruto de sabor amargo eu recuso de me alimentar. Recuso tentar fazê-lo parecer doce. Não me basta ficar, encher a pança, dar umas risadas de um cadeira confortável ("não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo"), fazer sexo, ser legal ou bacana. Tenho o peso do sentido a me ditar por onde seguir. Estou cego, preciso tatear e já não me basta o horizonte para admirar.

Hoje eu quero sair só - Patrícia Coelho
(...)
Tchau!
Vai ver se eu tô lá na esquina
Devo estar
Já deu minha hora
E eu não posso ficar
Tchau!
A lua me chama
Eu tenho que ir pra rua
A lua me chama
Eu tenho que ir pra rua
Hoje eu quero sair só
Hoje eu quero sair só
Hoje eu quero sair só
Hoje eu quero sair...


Que porra! Andam dizendo por aí que eu sou blasê. Que merda! Eu não quero ser blasê, eu não quero ser blasê, eu não quero ser blasê. Não quero virar um insensível qualquer, construir estradas e não andar, não quero envelhecer lendo maiakovski na loja de conveniências, não quero ser alegre e passear com meu cão alegre sob o sol de domingo. Não quero me saturar e não consigo estar receptivo, nem acreditar, não quero me saturar


"Vai passar,tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã,mas dentro de uma semana, um mês ou dois,quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso, às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como "estou contente outra vez""...
Caio F. Abreu

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