Esse Fui Eu

Da série: Tudo o que ele poderia não ser

Esse fui eu

Começamos nossa história com uma gravidez indesejada, pais jovens, nem tinham se formado ainda, não queriam, exatamente, um infante para alegrar a casa. Acabaram aceitando, decidiram-se pelo nome de um camarada que havia morrido recentemente em um acidente de helicóptero. No caminho do Xingu, a aeronave se desgovernou, todos pularam de um lado e o Rubens de outro. Todos salvos, mesmo o piloto, que conseguiu pousar o equipamento, mas as hélices do tal não deixaram que Rubens visitasse os índios, já que fora o único a saltar daquele lado (que se mostrou errado). Cômica desgraça. O bebê nascido com o cordão enrolado no pescoço era só perna e nariz de tão feio, e ficou doente às vésperas de uma de suas primeiras viagens, aos nove meses. Depois ele só comeria se alternasse uma colher de comida e uma de gelatina, ficaria gripado toda semana e mijaria em quem quer que desse banho nele. Mas, voltando ao episódio, meio choroso, meio febril, decidiram ir assim mesmo. Na estrada, conforme as horas passavam, o muleque ia piorando, temperatura elevando, chuvas torrenciais, paradas obrigatórias antes de chegar. A viagem prolongada por horas e horas. De madrugada, chegando, levaram ao médico provincial que pulou da cama assustado (só porque conhecia a tia) e viu que era meningite, mas que não era das graves, um remédinho e repouso. Os pais, metidos recém formados acharam que não era por aí, compraram outros remédios (que não os prescritos), conseguiram um avião (para pesticida) de um agricultor (amigo da tia) e levaram o garoto para cidade grande, 600 kilómetros dali, não sem antes tirá-lo do coma e ressucitar uma parada respiratória com massagem peitoral e boca a boca.
Hoje é um rapaz bonito, robusto, que anda por aí, 23 anos...
Quem diria?