sábado, 25 de março de 2006

Carro em movimento que desengata a marcha

Poeminha chantagista e de uma sinceridade e beleza tocantes.

Se tu me esqueces

Quero que saibas uma coisa.
Tu já sabes o que é:
Se olho a lua de cristal,
o ramo rubro do lento outono em minha janela,
se toco junto ao fogo
a implacável cinza
ou o enrugado corpo da madeira,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz , metais,
fossem pequenos barcos que navegam
para estas tuas ilhas que me aguardam.

Pois, ora, se pouco a pouco deixas de me amar,
de te amar, pouco a pouco, deixarei.
Se de repente me esqueces,
não me procures, já te esqueci também.

Se consideras longe e louco
o vento de bandeiras que canta minha vida
e te decides a me deixar
na margem do coração no qual tenho raízes,
pensa que nesse dia
a essa hora
levantarei os braços
me nascerão raízes procurando outra terra.

Porém,
se cada dia,
cada hora,
sentes que a mim estás destinada com doçura implacável,
se cada dia se ergue uma flor a teus lábios me buscando,
ai, amor meu, ai minha,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
do teu amor, amada,
o meu se nutre,
e enquanto vivas estará em teus braços
e sem sair dos meus

(Poema de Pablo Neruda in "Os versos do Capitão")

Um comentário:

Anônimo disse...

Bonito o seu quarto e as coisas que nele povoam...