terça-feira, 19 de julho de 2005

Estranho, mas não desconfortável

Era uma vez um menino que decidiu organizar na sua cabeça todos os mundos possíveis, as prováveis combinações resultantes em felicidades plenas. Pensou (era um pensador), parou (como era de se esperar), refletiu, escreveu. Uma dúzia. Expremeu (sairiam mais?). Tentou, persistiu, recalculou, recombinou, mais uma! Desistiu. No mundo não existem tantos sonhos assim.

Era uma vez uma menina que não andava direito, mas não percebia. Quem a encontrava tentava ajudar, não adiantava, ela não sabia que precisava. Um dia recebeu uma bengala de presente. A bengala possibilitou à menina que andasse melhor e depois de um tempo deixou de servir. Deixou de lado, viu uma outra perfeita, comprou. Quase ninguém andava de bengala, quem tinha não precisava (ela não sabia para que tinham os que não precisavam). Como os outros andavam todos iguais gostaria de, diferente de si, ser normal. Começou a cair e descobriu que a bengala perfeita era torta (seriam as bengalas todas tortas ou somente as perfeitas?). Não conseguia abandonar pois teria de se arrastar, criou calos em todos os lugares, não sentia mais as quedas. Ao cair, no chão e ao levantar tinha diferentes horizontes, mas não percebia. Podia cair e tentar andar de diferentes formas, podia se jogar, mas não percebia.

Era uma vez um menino cujos olhos eram sensíveis à luz do sol. Os raios eram prejudiciais, feriam e incomodavam. Queria ir, mas não conseguia por muito tempo, a claridade sempre onipresente em seu caminho. Chegou em casa um belo dia cansado e decidido. Arrancou os próprios olhos colocando um par de vidro no lugar. Saiu e caminhou. Nada mais o impedia, não havia dor e seguia, por onde fosse não se cansava. Nada o impedia. Caminhou, andou, seguiu (teria saído do lugar?). Até que percebeu que não sabia para onde estava indo.

8 comentários:

Monalisa Casa-2 disse...

Entendi. Você é a menina da bengala, a Luana tem as redomas de vidro e o primeiro é quem você queria ser, certo?

Anônimo disse...

Apesar de um pouco sem sentido - devem haver sentidos ocultos... - belo texto. parece uma música de Belle & Sebastian.
beijos!

Danilo SG disse...

Familiar... bem familiar. E por vezes desconfortante!

Domenico disse...

Espero que vc possa traçar linhas de fuga em sua caminhada, não só no Andes, mas em SP tb!

Abraços

Anônimo disse...

Tá foda, os sonhos estão em falta. A escuridão em falta. Mas o sonho dentro do sonho é a maior claridade de todas: mais do que nunca, não sabemos aonde estamos indo.
Abraço.

Anônimo disse...

Não entendi muito bem a primeira, e talvez eu não deva mesmo entender...
Mas sobre as outras, uma dúvida:
De que era feita a bengala torta? Seria de vidro?

Rubis disse...

Quem é MonaLisa? Nao entendi muito bem o comentario. Quanto a ser de vidro, nao sei muito bem. O que é de vidro, apesar de muitas vezes bonito, eh muito delicado e fragil. Espero que nao fosse. Me mandaram outras perguntas por e-mail, reproduzo aqui.

Beijos


Qual o gênero literário?
a) sátira
b) comédia
c) farsa
d) tragédia
e) epopéia
f) ficção

Que defeito possui a menina que a impede de andar direito?

Por que ela não consegue, assim como o menino, chegar em casa e, decidida, trocar suas pernas mancas por um par de pernas de pau?

Quais as diferentes formas que ela podia andar e não sabia?

Se ela se jogasse, onde cairia?

Por que o menino queria ir, se os raios apenas lhe feriam e incomodavam?

O que fariam com seus olhos, também dotados de sensibilidade ao sol, todos os outros seres humanos além do menino? Arrancá-los seria uma prática comum ou haveria a possibilidade de conviver com eles?

Nada mais impedia o menino de andar. No entanto, seus olhos de vidro impossibilitavam que ele enxergasse. Não estaria ele enganado, ao pensar que andava? Se não leva tombos mesmo sem saber por onde anda e permanece sem cansaço algum, não estaria ele parado, sem perceber?

Onde ele pretendia chegar ao decidir caminhar, sem qualquer obstáculo, dor ou cansaço? Qual o possível destino que, de tão longínquo, necessitava de tais abstenções?

O que o menino fez com seus olhos sensíveis após tê-los arrancado? Guardou, engoliu ou jogou no lixo?

Para que tinham bengala os que não precisavam?

Seriam as bengalas todas tortas ou somente as perfeitas?

Anônimo disse...

nao sei pq, mas me lembrei do Arlequim...