Meus textos andam bem meia boca, preciso me dedicar mais a algumas coisas, mas vai mesmo assim. A discussão já está em outro ponto, chegamos quase a uma guerra aberta entre docentes e estudantes (coisa que ainda não foi descartada). Só sei que a psico anda bem mobilizada, só é uma pena que eu não sei se isso é exatamente uma questão tão fundamental assim. Bom, aguardem cenas do próximo capítulo
O BOCA como espelho do Movimento Estudantil de Psicologia
Rubens (01)
Os mais velhos, muito se questionam para onde está indo o movimento estudantil (a partir de agora chamarei de ME). Atualmente ele é visto como com poucos participantes e se dedicando a pequenas questões. Ou seja, antes, milhares de pessoas nas ruas, lutando pela nossa liberdade, USP x Mackenzie na Maria Antônia. Agora, cada um na sua e ninguém mais se entende.
No evento de memória do movimento estudantil de Psicologia realizado no ano passado algumas informações foram resgatadas e possibilitaram alguma reflexão. A primeira delas é de que não eram tantas pessoas assim que participavam do movimento estudantil. Isso para mim foi bem chocante. Essas pessoas que participavam faziam parte de um grupo revolucionário de 3 pessoas ou eram dirigentes dos movimentos maiores e, portanto, davam as diretrizes para o povão, para a massa crítica universitária. Os participantes contam que nenhuma outra questão era debatida. Opressão da mulher? Coisa do capitalismo/ditadura. Opressão aos homossexuais? Coisa do capitalismo/ditadura. Ou então não eram temas para serem discutidos porque a liberdade/socialismo eram mais urgentes. Indo por esse caminho, a poesia, o Instituto de Psicologia, suspeito até, a gerência da cidade e do Estado eram temas que tinham que esperar.
Lembremos que nesse momento histórico estavam juntos pelo fim da ditadura o que viria a ser posteriormente o PT, o PSDB, o PMDB, o PSTU, o PC, PBdoB, entre outros. Uma causa tão grande aglutinava pessoas das mais diversas. Com o fim da ditadura essas diferenças aparecem de forma mais explícita e o ME se fragmenta.
Começa-se então a se diminuírem a abrangência das causas. Da liberdade no país para o currículo no Instituto de Psicologia da USP. Vejo alguns fatores decisivos influenciando essa mudança. Uma delas é a percepção de que grandes mudanças não causam, necessariamente, mudanças nos nossos cotidianos. O socialismo real era visto cada vez mais como não libertário. O fim da ditadura não teve como conseqüência direta o fim do tratamento autoritário/ditatorial de várias pessoas. Voltamos os olhos para as pequenas injustiças, as pequenas opressões, que acontecem, inclusive, no ME. Outro é que as grandes decisões passam cada vez menos pela opinião da grande maioria da população, é só pensar quantas pessoas acham que temos que gastar bilhões de dólares com a dívida do país. As grandes decisões nos escapam, atualmente. O mundo se complexificou.
Falam os mais velhos e estudiosos do ME que, antigamente, o BOCA refletia o ME e hoje não mais, pois teria se perdido em meio a poesias e contos e desabafos de menor importância. Sendo aberto, se a participação de pessoas da chapa do CA ou da gestão dos Representantes Discentes não escreve no BOCA o questionamento é para eles e não para todos os outros que contribuem para o jornal. O BOCA é a tentativa de extender a palavra a todos, reconhecer diversos assuntos como importantes, tirar o reconhecimento somente dos que “são do CA”, ou da chapa do CA. Esse é o ME que a chapa Outras Palavras tenta reconhecer, esse é o momento do ME como um todo, talvez. Os problemas se multiplicaram, os limites da atuação política antes claros estão diluídos. É relativa a importância dada a cada um desses problemas e é relativo se é justo como cada tema vêm sendo tratado. Essa visão está diretamente relacionada à tentativa de desburocratização e rompimento de estruturas altamente institucionalizadas.
Por que não discutir agora a opressão de gênero? Por que não discutir agora o currículo, a poesia, a balada, o BOCA? Todas essas discussões são extremamente políticas e estão ao nosso alcance. O que fazer com o jornal, como contratar um professor. Nossa vida pública como um todo deve ser refletida. Unir teoria e prática cotidiana nos exige bastante. Não é tão fácil assim agirmos de acordo com o que acreditamos e estamos o tempo todo sujeitos a deslizes.
2 comentários:
Apesar de "meia boca", gostei do texto!
bjos
O que mais me aflige é ver que muitas pessoas acham que deslizes são o fim do mundo.
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