Hoje meus avós completaram 50 anos de casados. Isso é um puta acontecimento. Eles casaram de novo e fizeram uma festança. Família reunida, o talento aqui quis escrever umas palavrinhas para os noivos. Como ficou brega ao extremo, minha irmã não se dispos a ler comigo e na hora eu não estava bêbado o suficiente pra fazer sozinho, decidi deixar pra um momento em que só estivessem os íntimos. Como esse espaço é um depósito, deixo pra vocês um pouco das minhas breves, mas tocantes digressões:
(inicia um jogral entre mim e minha irmã com frases típicas dos dois)
-Num se alembra de ligar pros velhos
-Confia sempre desconfiando. Quem gosta de você é você mesmo
-Tá cansado de não fazer nada? Não pode nunca ajudar sua mãe?
-Ow braço curto!
-Não sei o que me acontece que essa massa nunca sai do jeito que eu gosto
-Ta bom, Zefina!
-Ta bom, Chico!
Dois velhinhos bem reclamões, hoje completam 50 anos juntos. Desde sempre acordando a gente às 8 da manhã no sábado.
São tão durões que só visitam a gente quando tem alguma tarefa a ser feita, alguma coisa a ser consertada, alguma comida que precisa ser cozinhada urgentemente pros netos e pra filha.
E eles são muito mais talentosos que os mais novos, tentando ensinar sem muito sucesso como cuidar da casa e do jardim, como fazer aquela berinjela e aquele canule. Somos filhos e netos bem desnaturados.
Mais eles tem algo mais a ensinar.
Quando eu era mais novo, ficava me perguntando: “Porque eles continuam juntos, mesmo brigando tanto?” E olha que era bastante. E eu só fui compreender um pouco mais em um momento bem triste, no falecimento da noninha.
Os dois ali, tristes e se dando apoio, suporte. Por mais que outras pessoas estivessem presentes, só eles podiam estar mesmo ao lado um do outro.
Vi uma coisa que antes não tinha visto, eles eram muito próximos e muito companheiros, como só a idade e o tempo juntos podiam possibilitar.
Em um tempo de relacionamentos descartáveis, que se anulam à primeira dificuldade, vocês (provavelmente agora seria o momento de mudar a conjugação olhando para eles que já estariam emocionados), VOCÊS são a lição viva e difícil do que há de belo em tantos anos de união. Também do que há de ruim.
Como agüentar tantos defeitos por tanto tempo? Somos humanos e os defeitos fazem parte do que somos. Essa tentativa de viver sem defeitos ou somente momentos de alegria só é possível para relações de curta duração ou mesmo superficiais.
Apesar das conversas sobre viagra, aposto que não é o sexo que une vocês dois. Pelo menos, não só (esse é o momento engraçado que depois de uma pausa, vem outro mais ainda). É um companheirismo, estar do lado o tempo todo, mesmo que seja pra reclamar da vida. Mesmo sem estar tudo a mil maravilhas, é saber que pode contar, saber que pode cair porque o outro está ao lado pra segurar, saber que pode sair sabendo quem vai encontrar quando voltar. Vivendo um pelo outro e pela família, vocês são um caso raro hoje em dia, vocês estão ameaçados de extinção. (essa iria pro homem-chavão sem dúvidas)
Todo mundo com quem eu falava sobre as bodas ficava feliz, até mesmo emocionado. Espero que haja bastante tempo pra que a gente possa ir aprendendo, aos poucos, como recuperar essa dedicação que vocês dispensam um ao outro. Desse sentimento que aos mais novos soa como obrigação ou como falta de opção, e que talvez não seja outra coisa senão amor. (palmas e mais palmas, acho que o Bush me contrataria para fazer os discursos dele...)
3 comentários:
Que legal tudo isso. Depois me conta - ou posta aqui, se achar que é o caso - como foi por lá!
Mari
um brega lindo....vcs deviam ter lido...
beijo
Lua
Rubinho, isso não foi nada brega, foi LINDO!!! Estou emocionada...
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