sábado, 25 de dezembro de 2004

Quartinho dos Fundos

Tudo parece confortável
(ao menos de longe).
Mesa posta
vinho, champagne...
A taça, delicadamente,
toca seus lábios,
umedece a boca
e, um pouco,
desliza por sua pele
acariciando o início
de seu queixo.

Chama meus olhos,
a beleza do vestido que,
tal um lençol acetinado,
apenas rela-lhe o corpo
nos insinuantes pontos
de maior curvatura.
Sonho...

Hei, espere! Aonde vai?
A fresta pela qual
posso deixar meu olhar te tocar
é pequena demais...
Quem é este
entre eu e você?

Em meu quarto escuro
o ar é pesado,
e o calor, insuportável...
músculos doem,
e o frio que sinto
em nada refresca,
apenas gela,
torna frágil,
e quebra.

Não há janelas.
Não há saídas.
Nada distingo a minha volta...
Mesmo que houvessem
pés-de-cabra ao chão,
a noite daqui
me impediria de acha-los,
abrir a porta.
Mesmo em uma sala de espelhos
não conseguiria me ver.

O calor me tomba,
exausto.
Gélido suor pontua a face;
lágrimas escaldantes queimam a carne.
Meu frio me some a voz,
interna.

Acho que me notou!
Vêm em minha direção...
Ah, quando estiver lá...
o vento, sem mormaço,
quebrará meu gelo.
Reencontrarei sorrisos.
E a mim.

Quando estiver lá
sentarei à cadeira de balanço
e beberei sua taça...
para reaver minhas forças,
meu sono.

Quando estiver lá
você em meu ser será
e ele já terá ido.
Estará distante...
vago.

Quando estiver lá...
Pára!
Não faz isso!
Não fecha a...
porta.
12/2000

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